Abundam As Tendas Dos Sem-Abrigo Nas Noites De Lisboa
Saturday - Feb 4, 2023
Vivem debaixo da ponte, a de São João dos Portais, no cruzamento da Mouzinho de Albuquerque com a Infante D. Henrique, em Lisboa. Umas 25 pessoas, nove serão imigrantes, dormem em tendas iglu. A razão principal é a falta de trabalho, o que para muitos se deve a dependências e problemas mentais. Mas estão espalhados por toda a cidade de Lisboa, preferindo permanecer na rua a dormir em albergues, mesmo com o pavilhão que foi aberto para os dias mais frios.
Entre estes, há quatro pessoas com origens e histórias de vida bem diferentes. Mariana Vasco, 32 anos, da Figueira da Foz, a filha do meio de três, tinha tudo para ter outro percurso de vida, não fossem as "más escolhas". Veio para Lisboa aos 18 anos, estudar Terapia Ocupacional na Escola Superior de Saúde de Alcoitão, chegou ao 3.º ano e à altura de estagiar. Escolheu ir para uma Unidade de Comportamentos Aditivos. "Já tinha consumo de drogas à mistura, comecei a questionar o meu papel, acabei por deixar tudo", conta.
Foi toxicodependente durante seis anos. Entrou num programa de metadona (terapia de substituição opiácea), foi viver para a casa de férias da família em Peniche. Arranjou trabalho num hotel, veio a pandemia, mas não lhe interrompeu o percurso. "Comecei a 2 de março e veio a covid, fui despedida. Como tinha experiência de trabalhar com pessoas, entrei nos lares e refiz a minha vida. Tinha o meu carro."
Um primeiro obstáculo: os contactos familiares. Decidiu que era melhor regressar a Lisboa, o que diz ter tido a aprovação da família e da psiquiatra. Foi há um ano e começou a trabalhar numa fábrica. Procurou um albergue para os primeiros tempos, mas isso tornou-se um problema: "Muita gente com consumos, tive uma recaída."
Voltou a algumas das anteriores amizades, às drogas, ao ex-namorado com quem divide há três meses a tenda. Sublinha que não reataram a relação amorosa: "Somos o apoio um do outro."
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